terça-feira, 6 de agosto de 2013

Diário da Rebeldia Doméstica - dia 1

Então era assim: minha família é uma dessas famílias tipicamente brasileiras, calcadas fortemente no patriarcado. Não vou entrar em muitos detalhes, mas vamos dizer que minha mãe, apesar de ter ideias avançadas por um lado, era bem conservadora de outro.

Sendo assim, criou a mim e a meu irmão de formas diferentes.Novidade nenhuma nisso. É o "costume".

Enquanto eu comecei a lavar louça e cuidar de casa e de criança (o irmão, claro) aos nove anos de idade, o rebento nunca foi ensinado sequer a arrumar a própria cama.

Era minha mãe quem fazia tudo. Era ela quem brigava comigo - COMIGO - porque eu não "cuidava" do meu irmão. Foi assim até o último dia de vida dela. A última coisa que ela disse pro meu irmão foi: 'ajude sua irmã a cuidar da casa'.

Não preciso dizer que isso não aconteceu.

Nos primeiros meses, eu, perdida, tentava me agarrar à antiga rotina fazendo tudo que minha mãe fazia. Agora que percebo o quanto estou trabalhando sozinha, ficando cansada e ME deixando de lado, comecei uma pequena rebeldia doméstica. Só que tá difícil pro povo aqui de casa perceber que a empregada antiga morreu e que uma nova, só contratando.

Claro que virou briga. Claro que estou ouvindo xingamentos. Claro que a errada sou eu.

Numa cultura em que o homem manda, eu deveria simplesmente abaixar a minha cabeça e cuidar da macharada da casa. Só que não tem nada escrito no contrato da vida que a mulher tem que ser subserviente ao homem e cuidar dele como se fosse um bebezinho.

A menos que ele seja seu filho e enquanto não consiga se arranjar por conta.

Daí que o mero fato de eu ter decidido ocupar o quarto da minha mãe, me mudar com minhas coisas pra lá e usar o banheiro que era dela, com tudo novinho, está causando um rebosteio nesta casa.

A saída mais lógica seria procurar meu próprio canto.

A realidade é que não tenho dinheiro.

E, digam, qual é o problema de eu querer meu próprio espaço, mesmo que seja dentro da minha casa? Qual é o problema de eu deixar claro que não sou mãe de ninguém e que não vou ficar camelando pros outros assistirem à TV o dia inteiro, ou dormir, ou jogar videogame?

Eu trabalho. Todo mundo trabalha. Mas dividir tarefas está sendo um parto. Uns trabalham muito enquanto outros vivem a doce folga.

Como a cooperação não é igual, então o tratamento também não é. Agora cada um cuida do seu espaço, da sua roupa e da sua comida. Se não estiver bom, então, sinto muito. Sei que eu terei roupa passada, comida e um quarto limpo. Afinal, só dependo de mim mesma pra conseguir isso.

Os próximos capítulos eu conto depois.

2 comentários:

  1. Vou acompanhar BEM DE PERTO essa saga, Lil!
    Acho que você fez muito bem mesmo de se rebelar. Quer uma empregada? Contrata. Não quer gastar dinheiro com isso? Então faça a sua parte para manter a organização da casa.

    Você tem um espaço ótimo no quarto da sua mãe e conseguirá até mesmo um pouco mais de intimidade, de tempo consigo mesmo. Além de, é claro, não precisar se preocupar com a bagunça de outros no seu espaço.

    Nós estamos em um país bastante machista... e em uma casa onde esse "machismo" sempre foi perpetuado, não será fácil mudar as coisas.
    Mas você precisa fazer isso! Você não é empregada de ninguém e não é justo ficar fazendo tudo pelos outros que ainda tem o despautério de pensar que você "só está fazendo a sua obrigação".

    Forças, Lil! Rebele-se mesmo e seja feliz no seu espaço! Isso faz toda a diferença :)

    (PS: Eu também queria demais sair da casa dos meus pais e ter o meu canto. Mas, caramba, isso é caro demais e sozinha não posso fazer. Mas ao menos tenho o meu espaço, já que aqui em casa cada um tem o seu quarto. E, sério, isso faz toda a diferença.)

    Beijos,
    Nanie

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    Respostas
    1. Se faz, Nanie. Eu fico puta porque aqui em casa não entendem que eu não quero briga. Só quero cooperação. E não quero que vejam como cisma/racha o fato de eu querer meu espaço e não aceitar a bagunça do outro. Sou obrigada a ouvir xingamentos, acusações de que não sou adulta e um monte de outras porcarias PORQUE NÃO SOU COMO A MINHA MÃE ERA. Porque não aceito. Enfim...

      Agora, não me podem por pra fora, porque a casa é 25% minha. Estou ocupando meus 25%. Fodam-se vocês.

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